sexta-feira, 25 de maio de 2007

AS ABARCAS


"Quem abusar deverá ser afastado de imediato"

É usual alguns "valentões" e jovens mais "musculosos" tentarem deitar abaixo o parceiro mais afoito! Por norma, após o repasto, faz-se uma roda e ... vamos a ver quem é que se aguenta de pé!
Há que agarrar o adversário como puder e tentar derrubá-lo.
Nada de desconfiar ou golpes baixos.
Quando cair acabou!... Quem abusar deverá de imediato ser afastado...

(Joaquim Aleixo)

sábado, 12 de maio de 2007

O REGRESSO

Chegou a hora de regressar! A festa em Ludo terminou!
Num ápice todo o "circo" foi levantado, carros, mulas, carroças, tractores, cavalos, cavaleiros, a rádio Simão, tudo está pronto para a partida.
Aí vamos nós estrada fora, com alguma anarquia á mistura.
Entrámos na Estrada 125 que temos de percorrer apenas 200 ou 300 metros e aumenta a anarquia.
A Guarda Nacional Republicana controla o transito.
Mas, o ruido dos automóveis, das motos e motorizadas assusta os animais! É preciso corajem e força para os conter e segurar evitando algum indesejado acidente.
A Rádio Simão, apela aos estranhos, para não se intrometerem entre o cortejo. Ninguém respeita.
E lá vamos andando o melhor possível.
O cenário á nossa frente é fascinante! São dezenas de cavaleiros, numa simbiose, numa amálgama perfeita.
Todos solidários entre si.
Não obstante, alguns mais irreverentes, fazem uma ou outra pirueta empinando as suas montadas, assustando quem está a assistir e gritam: Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha!
Todo o percurso de regresso é empolgante! Muita gente na estrada saudando a caravana.
Passámos o Esteval, vamos em direcção a Santa Barbara de Nexe, onde uma multidão nos espera.
Aí chegados, somos recebidos ao som da Banda de Musica.
À entrada de Santa Barbára a caravana pára, esperando que todos estejam reagrupados, para podermos subir até ao Rossio.
Cumpriu-se a tradição. Regressamos à estrada! Estamos de novo a caminho de Estoi.
Chegámos ao Coirro da Burra, mais um banho de multidão e mais uma paragem, esta é a última antes do final.
Temos de nos preparar para apoteose final! A entrada em Estoi!
Toda a caravana recebe os archotes feitos de esparto entrelaçado que hão-de empunhar até á Igreja do Pé da Cruz.
Os archotes que iluminam esta parte do percurso, simbolizam o passado.
Finalmente estalam os foguetes. É o sinal de partida. Todo o cortejo se põe em movimento. Alguns metros á sua frente a Banda de Música, tocando uma marcha,vai marcando o compasso!
A sua tarefa é dificil, para não dizer arriscada. Terão de fazer a pé, todo o percurso final, sempre a subir, com cerca de 2000 metros, tocando e transportando os instrumentos.
Para além disso têm atrás de si, a apenas alguns metros de distancia os já pouco disciplinados e exebicionistas cavalos e cavaleiros.
Na subida do Coirro da Burra, todos os ocupantes dos "carros de mula" se apeiam para que os animais já muito exaustos, consigam levar os carros até ao final da ladeira.
Os archotes rodopiando sobre as cabeças, enchem a noite escura, de luzes trémolas e brilhantes!
Os foguetes continuam a estalar e o cortejo ladeado por uma enorme multidão, entra em Estoi!
Passa em frente à Igreja de S. Martinho, no Largo da Liberdade, uma enorme multidão agita-se.
De um lado e de outro grita-se: Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha! Vamos subindo, rua acima e chegamos ao Largo Ossonoba! Finalmente entra-se na Rua do Pé da Cruz. Lá ao fundo, avista-se o cruzeiro de pedra onde iremos depositar o alecrim.
A Banda toca o último número e é a despedida final! Cansados, roucos, emocionados e felizes, os intrépidos "romeiros", podem enfim descansar!
Para encerramento desta jornada, conta-se que antigamente ao longo da Rua do Pé da Cruz e junto ao cruzeiro, eram colocadas mesas com comida e bebida para todos.
Actualmente é no Largo Ossonoba que está á entrada da rua que recebe todos quantos aqui quiserem conviver, comendo e bebendo ao som de musica popular.
"Ás gerações mais antigas da minha aldeia, às gerações que fizeram "algo" para manter vivo o espirito da Pinha, aos jovens do futuro, o nosso agradecimento, por aquilo que fizeram, façam ou venham a fazer, em defesa duma tradição que nos toca a todos.
Que o dia 2 de Maio de cada ano seja sempre a data de maior exaltação da aldeia de Estoi, que mais anima, mais une, mais toca os nossos sentimentos de fraternidade, igualdade e identidade.
Que os dias mais felizes da Festa da Pinha, sejam aqueles que ainda não vivemos!"
Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha!

(Joaquim Aleixo - Maio de 1994)

sexta-feira, 11 de maio de 2007

A PARTIDA

“De Estoi a Ludo"
Integramos o cortejo, montados na carroça que este ano é conduzida a preceito pelo nosso amigo Filipe “carreiro” entendido.
Teimosamente Eu, o Eusébio Rita (sete pelos), o José António Paula Brito (o Doutor) e o José António Cadete Gago que veio a propósito do longínquo Canadá, para não perder pitada da Pinha, fazemos questão de nos manter fiéis à carroça, em detrimento do tractor.
Um mar de gente no Largo da Liberdade, aplaude e incentiva os intrépidos “almocreves” que partem garbosos em direcção a Ludo.
O barulho dos chocalhos e arreios das carroças, o relinchar estridente das éguas e cavalos, o grito ainda sonoro do “Viva a Pinha” prontamente repetido por todos.
Eh pá, já contei mais de 118 cavalos! diz animado, o Rita.
Flashes disparam em todas as posições, são as máquinas apontadas que captam as primeiras imagens matutinas para mais tarde recordar.
Os miúdos da Escola Primária, saltitam e pulam de contentamento com a passagem ritmada do cortejo!
É a Festa da Pinha, em Estoi!
Viva a Pinha! gritam e o Rita responde: “viva o alguidar da carne! …”
O cortejo vai avançando eufórico, estrada fora. Ultrapassamos, somos ultrapassados, sempre com o grito “Viva a Pinha”!
O Coirro da Burra, há muito que ficou para trás, passámos Santa Bárbara e estamos a chegar ao Esteval.
O percurso vai sendo feito com grande animação e entusiasmo, muita gente na beira da estrada, alguns turistas aproveitam para tirar fotos.
E foi assim até Ludo. Chegámos!
Cada grupo procura a melhor sombra para ficar.
A chegada, com alguma decepção verificamos que muitos que não participaram no cortejo, se antecipam e já ocupam os melhores lugares.
Desatrelam-se os animais.
Preparam-se as mesas improvisadas, porque é tempo de retemperar as forças, comer e beber o farnel que preparámos.
A Festa continua.
Misturam-se sabores, prova-se isto e aquilo, ... eh pá trás as febras que os caracóis já foram!
Que bela pinga esta! Este ano está boa!
Contam-se histórias.
Repete-se o ritual.
Cantamos, dançamos e brincamos, ao som do harmónio.
Fazem-se abarcas!
O Zé Preto, ao ver uma linda moça diz uma bonita quadra:

As tuas mãos cor-de-rosa
As tuas faces vermelhas
As tuas palavras mimosas
Fazem-me aquecer as orelhas!

O dia vai avançando, daqui a pouco é hora de preparar o regresso.
Ainda há tempo de beber mais um copo e ouvir um verso, agora do nosso amigo Arnaldo “Panito Mole”:

Como é para ficar gravado
Vou dizer uns versos tais
Já estou velho e cansado
Não sei se virei cá mais!

Para continuar a gravar
Quero dizer uma minha
Certa malta que está a falar
Nem sabe o que é a Pinha!

Isto é um festejo tão querido
E quero que ninguém se esqueça
Trouxe um copo partido
Que tenho que beber à pressa!

Este vinho do Cavaco
Não vem lá do Cartaxo
Mesmo sendo um pouco fraco
Até deita a gente abaixo!

São horas! Temos de nos despachar! Vai mais uma para atestar!
Em breve iniciaremos a partida de regresso a Estoi.

(Joaquim Aleixo - Maio de 1994)

quinta-feira, 10 de maio de 2007

MANHÃ DO DIA 2 DE MAIO

"Preparando a saída"

Uma vez mais o dia amanheceu lindo, daquele azul Algarve indescretivel e sem pararalelo em outra parte do planeta.
No ar um cheirinho a pampilho verde do campo, exalando as muitas rosas multicores o cheiro etéreo que só Estoi no dia 2 de Maio possui.
Palmeiras vergadas e em esquadria, ornam o carro de mula, este ano temos outro animal, já que a resistente e inultrapassável mulinha que o Sr. Manelinho Corvo, todos os anos nos cedia com orgulho, sucubiu ao peso dos anos.
Deixo aqui a homenagem áquela valente mula que partindo tarde, ás vezes já o cortejo passava o Coirro da Burra, rápidamente cavalgava célere até á cabeça da coluna. Belo animal!
Os foguetes estalam ruidosamente no ar chamando a comitiva para a partida!
São horas minha gente!
É preciso dar um último retoque no arranjo!
Mais um aperto na cinta preta, um retoque no lenço ao pescoço e uma fina malva ainda tesa colocada com desvelo e carinho, no chapéu que ostentamos à montanheiro!
Vamos malta!
Toca a subir para o carro!
Não esqueçam as cervejas! ... e o alguidar da carne?!
Um último olhar para verificar se não falta nada.
Estamos todos?!
Está tudo pronto para a partida!
É isto ano após ano neste grupo que tema em continuar a tradicção, levando toda uma mensagem de continuidade presente, em memória dos "almocreves" mais antigos.
É o começo do pulsar da Pinha deste ano de 1994!
Joaquim Aleixo
(escrito em 2 de Maio de 1994)

sábado, 5 de maio de 2007

CONVERSAS SOBRE A PINHA

"Conversando com o meu parente Albino"

A Festa da Pinha, autentica “ex-libris” da nossa aldeia, uma ancestral e centenária festa dos “almocreves” e “romeiros” que ano após ano se realiza em Estoi no dia 2 de Maio de cada ano, merece ser conhecida em pormenor.
Ao certo desconhece-se a sua origem. No entanto pretendia ouvir os mais idosos que participam nesta festa e perguntar-lhes o que sabem sobre ela.
Sendo assim, a 1 de Maio de 1994, dispus-me de gravador na mão, a falar com o nosso amigo Albino que com a bonita idade de 72 anos, me foi dizendo que já ouvia falar da festa da pinha, ao seu avô que lhe dizia que era muito antiga. Não sabe o motivo porque vão a Ludo, mas consta que há muitos anos atrás, no tempo em que existiam em Estoi os tais “almocreves” (que como se sabe eram pessoas que conduziam “bestas de carga” transportando mercadoria de uma terra para outra), havia em Ludo um senhor, filho ou descendente de um dos Condes de Carvalhais que era muito boa pessoa e emprestava dinheiro aos “almocreves” para eles poderem adquirir as mercadorias que levavam para o Alentejo ou mesmo para as Beiras, lá trocavam por outras mercadorias que traziam de regresso ao Algarve.
Naquele tempo este tipo de viagens eram para além de perigosas muito demoradas pelo que uma vez por ano acertavam contas com o tal senhor em Ludo.
Assim, no dia 2 de Maio seria o dia do pagamento.
Eram recebidos sempre com grande festa, onde comiam, bebiam e dançavam, junto à residência do senhor, nos pinheiros de Ludo (talvez daí o nome de pinha?).
Regressavam nessa noite a Estoi, empunhando archotes, indo em romaria, felizes agradecer à Nossa Senhora do Pé da Cruz, onde junto ao cruzeiro queimavam alecrim.
No dia seguinte que é o dia de Vera Cruz, faziam a procissão em honra de Nossa Senhora, percorrendo as ruas da aldeia, vestidos com os seus trajes característicos de almocreves ou seja: calça e colete pretos, camisa branca, cinta preta e barrete preto.
Quanto às mulheres vestiam saia preta e blusa branca, embora naquele tempo, talvez devido à perigosidade dos caminhos, não iam a Ludo e apenas participavam na festa, em Estoi.
Por me parecer importante aqui fica este testemunho de um homem que para além de participar nesta festa durante muitos anos, também integrou várias comissões organizadoras.
Joaquim Aleixo
(Escrito em, 1 de Maio de 1994)

quinta-feira, 3 de maio de 2007

FESTA DA PINHA-2007

"Bonita, alegre, emocionante e popular"
A Festa da Pinha 2007, foi igual a si própria.
Isto é, a saida do cortejo para Ludo com algum atraso, este ano com a ameaça de chuva, o que também não foi novidade, a festa em Ludo, e o regresso a Estoi, também como sempre com algum atraso, para desespero dos que aguardavam o cortejo e olhavam ansiosamente para a estrada do Coirro da Burra, para ver surgir ao fundo as tochas e finalmente ter o prazer de sauda-los com um forte "Viva a Pinha!".
Também como sempre, na frente o carro sonoro, seguido da Banda de Musica, depois os Cavaleiros, um pouco indisciplinados, os Carros de Besta, os Tractores e as Carrinhas.
Enfim o repetir da "Tradição" que para aqueles milhares de pessoas que aguardavam na aldeia o cortejo, foi o renovar da emoção.
Tirando alguns exageros que naturalmente não são possiveis de controlar, a festa esteve bonita, alegre, emocionante e sobretudo popular.
Parabens a todos os participantes e em especial aos Estoienses que têm sabido manter esta tradição.
JJ Rodrigues

sábado, 28 de abril de 2007

EDITORIAL

"Estoienses! ... novos e mais velhos!..."

Viva a Festa da Pinha! … Viva!...

Quantos de nós não recordamos, com alguma nostalgia, o grito que ano após ano ecoa no ar no dia 2 de Maio?...

São gerações e gerações de “almocreves” e “romeiros” que vêm narrando, à sua maneira, aquilo que faz parte integrante e indissociável do nosso património cultural e local!... Porém, não obstante esta realidade, ninguém poderá afirmar com rigor e concludentemente quando e como iniciou esta efeméride tão popular e carismática e de certa forma eivada de um misticismo religioso e paganista.

Não é nossa intenção descobrir desde logo toda a verdade acerca das origens das Festas da Pinha de Estoi. Isso ficará para mais tarde, quando consigamos ter acesso a toda a documentação que por ventura possa existir acerca disso.

Contudo, porque conhecedores e vivenciando ao longo de muitos anos a realidade das “Pinhas” modernas que poderemos situar a partir dos anos de 1968/69 para cá, com o reinicio das festividades após uma mais que natural abstinência motivada pela terrível guerra colonial, o recordar e historiar, com a maior isenção e imparcialidade possível, alguma coisa que poderemos deixar como testemunho às gerações vindouras.

Versões históricas contadas e passadas de geração em geração aqui são eloquentemente descritas, como cunho próprio de quem as ouviu e transcreveu, completadas com uma descrição ao vivo e no momento, após gravação antes e durante todo o percurso de Estoi/Ludo e regresso apoteótico a Estoi, poderão servir, assim espero, para futuros historiadores desta e doutras Festas Tradicionais para aquilatarem e observarem a reacção espontânea e real que os seus intervenientes denotam ao longo de todo o dia plena e fortemente vivido.

Á minha geração, fiel depositaria do testemunho transportado de seculares gerações de Estoienses, eu dedico o meu despretensioso trabalho, agradecendo a todos aqueles que aqui irão deixando o seu testemunho e aqueles de que me socorri para complementar fotograficamente a apaixonada descrição vivida neste ano de 1994.

Estoienses!
Novos e mais idosos!
A Festa da Pinha de Estoi está-nos no sangue.

Essa juventude que aqui vos irei mostrar como realmente é, saberá agarrar e adaptar às novas realidades que iremos viver, como preservar tão gratificante tradição que jamais queremos ver morrer.

A ela dedico o meu trabalho.

Viva a Pinha!...
(Joaquim Aleixo)
(2 de Maio de 1994)

quarta-feira, 25 de abril de 2007

FESTA DA PINHA DOS PEQUENINOS

Posted by Picasa"Memorial à Pinha"

Decorreu hoje, a "Festa da Pinha dos mais pequenos" que contou com muita animação e a ajuda da Banda da Associação Filarmonica de Faro. No decorrer da festa foi inaugurado um memorial á Pinha, com um painel de azulejos no qual estão pintadas imagens alusivas a esta festa popular de Estoi.
JJ Rodrigues

terça-feira, 24 de abril de 2007

VIVA A PINHA



Tttccchhhhheeeeee...
Tcchhhhheee…
Pum…Pum…Pum…
Trá, tá tá, trá, tá táa…
Tcheeeeeeee…
Pum!... Pum!... Pum!...

Agachou-se a velhota num repente
Deu um traque violento e altaneiro
Foi um êxtase! Um ardor, um bafo quente
Foi a fuga, esquecendo o seu traseiro…

“Ai Jesus! Valha-me Deus que me borrei…
Ah malvados! Estou desfeita em porcaria…
Vão p´rá Pinha, vão, vão, eu bem o sei
E p´rá bebedeira aí vai tudo em romaria”.

E lá foi num passinho miudinho
Pé ante pé… Era um pivete!...
Passa a cavalo, o Manel e o Branquinho
M´ai-lo Simão e um dos filhos do Cadete.

Um a um os tractores vão chegando
Parecem andores! Quão formosos eles vão!...
Há música a rodos, já cantando vão dançando
Viva a Pinha, p´ra Ludo é um esticão.

Pampilhos ornamentais,
Papoilas, malvas e rosas,
Palmeiras vergadas dão ais
Jaquetas e cintas Formosas.

Uma mãe embevecida
Aconselha o seu filhote:
“Não te metas na bebida
Cavalga bem, vai a trote”.

Flash´s disparam sem fim
Os vídeos são novidade,
“Põe-te aqui ao pé de mim
És quási da minha idade!...”

Viva a Pinha! Viva a Pinha!

O grito ecoa mais forte
O frenesim é maior
O cortejo vai partir
O povo aplaude a sorrir.

O Zé António Piáó desfila garboso
Com a sua irreverência
Um ar jovial e jocoso
Arranca palmas da assistência…

“Um a um, todos à Pinha,
São já horas de partir…”
Na Escola a malta se alinha
Dá vivas, grita a sorrir.

O cortejo já lá vai
Cavalos vão imponentes
No seu fino galopar
Em cima “romeiros” contentes

A outras terras vão chegar…
Vem o povo para a rua
Admirar o cortejo
Esta festa é também tua

Bom regresso é um desejo…
Palmas, flores e vivas

Juventude hilariante
Meninas bem humoradas
Dão um charme cativante
Quais finas mouras encantadas.

A longa fila se estende
No sinuoso alcatrão
Há gente que se surpreende
E julga ser ilusão…

É Maio, são flores, é Primavera!...
É o calor do sol que nos aquece
É uma mística que de nós se apodera
Se tristeza existe, ela esvanece.

Paganismo!?... Fé!?... Tradição!?...
Qual a resposta certinha!?...
A todos os que ali vão
Vão à Festa, vão à Pinha.

Na estrada, mais burburinho
O turista se questiona!?...
Pára mesmo o seu carrinho
Sai p´ra fora uma “camona”.

“What is this???...
How many flowers!?... Ahhh!!!
And the horseman´s… Oooohhh!!!
It´s beautiful…
Please, please!... A photo please!!!...”
“Sim filhaaaa, na deslizes, ah, ah, ah!!!
Tirá´qui uma… Ah camona!...
És cá uma boazona!...”

É a 125, o perigo nos vem sondar
Um a um, todo o cortejo respeita
Não à ida, mas na volta, ao regressar.
Quando os copos, o balão por nós espreita,
Que a multa, essa agora é à´viar…

Ludo, qual Paraíso,
Ilhéu de amores floridos
Cada qual no seu juízo
Sentam os cus já doídos.

A ordem é comer e beber,
Distribuir a preceito,
Quem lá vai, só para ver…
Arranja angina de peito!...

Sardinha assada, fresquinha,
P´lo Viterbo, “xota –xota”…
Assada na brasa, quentinha…
Senhora fina!... Até arrota!...

Caracóis e carne assada
É tudo à descrição.
Há mesas, toalha lavada,
Coma de pé ou no chão.

Cerveja correndo a rodos
Vinhos caseiros são muitos,
Verdes, maduros, de todos,
Chouriços, até presuntos!...

Abarcas, também as há,
Do mais pequeno ao graúdo,
Há café, até há chá,
Há de tudo aqui em Ludo.

Bem comidos, melhor bebidos
Os “romeiros” se exercitam
Alguns, os mais atrevidos…
Por vezes… Até se excitam!...

O convite ali à mão…
Na seda, daquele decote!...
Um homem não é cabrão,
Nem maricas, nem pixote!...

“Há que grande sacaneira,
Vejam o c´o velhote lhe fez!...
Ca puta da brincadeira,
Rasgou a blusa à Inês!…”

Os mirones, estão pasmados
De tamanha algarviada,
Canta-se a canção e o fado
Vozes roucas e afinadas.

Quão depressa o tempo passa
Quando se está a gozar…
Na Festa, com gente de raça
São já horas d´abalar.

Os corpos serpenteando
A caminho dos muares
Por vezes, não os achando,
Outros vêem, mas aos pares!!!...

“Toca a subir m´nha gente,
P´ra Estoi é nossa missão
Santa Bárbara p´la frente
Chega a Banda e o foguetão.

Organizado o cortejo,
Ludo, ficou lá atrás,
Meus olhos, eu já nem vejo,
A cabeça se desfaz!...

Viva a Pinha!
Viva a Pinha!
Viva a Pinha cacete!!!

Vá mais uma bem fresquinha
Estoira no ar um foguete.
Pum! Pum! Pum!...
Catrapum, pum, pum,
Só mais um!!!...

Viva a Pinha!
Viva a Festa da Pinha!...
Viva a Pinha!...

Na estrada é a alegria
Juventude em movimento
P´la manhã, quem diria
Ver o Simão embirrento!...

O Virgílio, o Deputado,
Das vastas terras da Areia,
Com o trânsito está marafado
“Ah sê cabrão duma cheia…”

Movimento, movimento,
Mulas de freio nas ventas,
São um suplício, um tormento!
“Quais travões! Vê tu se aguentas!...”

Bom, o pior já passou!...
E Santa Bárbara é ali
P´ra alguns a Festa acabou
P´ra outros aperta o xi-xi…

Novo magote se agita
No Rossio da “machadinha”
É todo um povo que grita
“Viva a Pinha” Viva a Pinha!...”

A Banda está treinando
Sob a batuta do Latas,
Vão tocando mas olhando
P´ra trás, focinhos e patas.

Tudo ajuda na ladeira
O treino foi proveitoso
Porque em Estoi a brincadeira
P´ra alguns é bem espinhoso.

“É tarde, é tarde, maltinha,
Vamos chegar atrasados,
Viva a Pinha! Viva a Pinha!
Ah! Copos! Ah seus malvados!...”

Descida com puro sangue
Mistura de alcoolémia
“Queira Deus eu não me zangue...”
O Coiro da Burra nos espera
O cortejo vai chegar
O Povo não desespera
A Festa vai continuar.

Archotes, são disputados,
Distribuídos à medida,
“Quero os carros iluminados
Mal se inicie a subida.”

“Sim, Sô Presedente,
Assim memo é q´ué falari,
O ano passado fique doente
Na vi d´nhum pus-me a olhari.”

Banda garbosa e nervosa
É da Pinha tradição
Aquela subida espinhosa
Deixa marcas, pois então…

Puuuum!...
É a partida!...

O carrossel já partiu!...
Ordeiro e compenetrado
Cada actor cumpre e cumpriu
O seu papel, sem ser forçado.

Que lindo! Que majestoso!...
Que imponente cortejo!...
P´ra Estoi estou ansioso
Cumprir enfim meu desejo.

Viva a Pinha! Viva a Pinha!
Viva a Festa da Pinha!...

À malta do caneco
Como aguentam essas gargantas
Vai mais um, outro boneco,
Flash´s na noite! – Que mantas!...

“Na veio a tlevesão?!...
Virá no Telejornal!?...
Os cabrões nunca cá estão,
Mas que merda é esta afinal!?...”

Viva a Pinha! Viva a Pinha!
Viva a Festa da Pinha!...

Varandas, estão apinhadas,
Palmas e vivas s´escutam,
Crianças, estão pasmadas
Os velhos, até exultam…

Viva a Festa da Pinha!!!

Respondem os forasteiros
De vídeos bem apontados,
Seus filmes são pioneiros
De feitos por nós glosados.

Eis o Largo da Igreja!...
Que majestoso cenário!...
Quem não viu, é bom que veja
Quão belo e imaginário!...

Cavaleiros, romeiros altivos,
Nas carroças, o sangue fervilha,
Tractores repletos, garridos,
Viva a Pinha! Viva a Pinha!...

Quase na ponta final,
No Jardim, novo fulgor,
Todos vêem, bem ou mal,
Aquele fogo, aquele ardor!...

Viva a Pinha! Viva a Pinha!...
Viva a Festa da Pinha!...

E estamos chegando ao fim,
No Cruzeiro, ao Pé da Cruz,
Palmeiras, flores, alecrim,
Fogueira imensa de luz!...

Está contado o que vi
Nesta Festa bem amada
Da aldeia onde vivi
Por mim jamais olvidada.

Joaquim Aleixo
(Acabei o meu poema
2:15 da madrugada…)
(Faro, 2 de Maio de 1989)

A MENSAGEM DE UM ESTOIENSE

"Romeiro ou Almocreve..."
Com a devida ajuda do meu filho Nelson, vou passar-te o meu poema dedicado à minha e nossa tradicional Festa da Pinha, que faz parte integrante da minha publicação escrita, recolhida com a máxima fidelidade e gravada ao vivo no ano de 1994.
Este poema, poesia livre, ganhou os Jogos Florais desse ano, por unanimidade do Júri de selecção, o que me dá enorme prazer e gosto, poder divulgar mais profusamente e dedicar a todos os "almocreves" e "romeiros" tradicionalistas e defensores da secular tradição.
A mensagem que deixo aos mais jovens e que ainda pouco conhecimento possuem da Festa da Pinha é a de continuar a manter a tradição, se possível não deteriorando as suas raízes, vestindo um traje simples ou mais imponente mas de homenagem ao homem rural, do Algarve, de Estoi e arredores que saídos com os produtos da terra, nos seus muares, subiam Serra do Caldeirão acima em direcção ao Alto Alentejo e Beiras interiores, trocando e comercializando os produtos da região, figo, amêndoa, alfarroba, peixe seco, sal e outros e trazendo em troca produtos ou dinheiros que comercializavam.
A viagem, longa e perigosa, levava-os até Ludo, onde os seus patrões recebiam os proventos conseguidos e colocavam vinho e comida para comerem farta e abundantemente. Depois de bem comidos e melhor bebidos, seguiam rumo a suas terras, Estoi em especial, sendo aí esperados por suas famílias e amigos, que os aplaudiam e de novo os festejavam com comidas e bebidas que colocavam nas ruas depassagem.
Não havendo nesse tempo elecricidade, a entrada era preenchida com archotes acesos que também serviam para afugentar os lobos que os perseguiam na dura e longa viagem.
"Almocreves" porque era essa a sua profissão e frente ao cruzeiro da Srª doPé da Cruz, depositavam alecrim em honra da padroeira.
Estavam organizados em Confrarias e o nome de Pinha poderá advir dos pinheiros onde acampavam e das pinhas que traziam para as fogueiras, havendo outras versões como o devir em "pinha" em "pinhoca" um aglomerado de pessoas, que se juntavam em"pinha" para melhor se defenderem dos ataques dos lobos famintos.
A lenda é lenda e poucas publicações existem que esclareçam, mesmo a Monografia de Estoi de Ataíde de Oliveira é omissa no assunto desta festa que tem vindo a ser prosseguida por gerações e gerações de Estoienses.
Eu e alguns entusiastas de Estoi, somos oriundos dos finais da guerra de África, tendor e tomado a festa após 5, 6 anos de paragem no ano de 1968 e tendo chegado até aqui com toda a pujança e cada vez maior participação.
O que mais me desagrada não é ver milhares e milhares de pessoas a assistir ao cortejo de ida e de volta, é sim o "abandalhamento" que alguns "pseudo-almocreves" têm vindo a adoptar, sem qualquer rigor cultural e didáctico, desrespeitando os trajes simples e usuais, a saber:
-Botas do campo, calça de cotim, sarja, surrubeco, linho ou algodão, as actuais gangas é uma solução moderna, cinta preta ou vermelha por cima de camisa de linho ou algodão de cor branca, colete preto, castanho ou cinzento, um lenço garrido ao pescoço e chapéu de feltro à montanheiro, se possível ornamentado por cravos, rosas, malvas ou malmequeres (pampilhos). Não são chapéus de cabedal, de cow-boy e de palhaque lhe dão aquele toque sublime.
Hoje, pela profusão de cavaleiros e amazonas presentes no dia 2 de Maio, é usual a compra de fatiotas de alto gabarito e de excepcional qualidade e visibilidade.
Aceita-se, embora os"almocreves" não seguissem para as suas jornadas tão bem "aperaltados"!...
Por outro lado, a imagem que é dada para o exterior por dezenas de tractores engalanados a rigor e algumas charretes ou carroças que ainda se atiram à jornada, é fortemente prejudicada por individuos que sem qualquer respeito pelas regras e tradições, se sentam sobre os motores de tractores, sem qualquer adereço festivo, uma ou outra palmeira por vezes arrojando pelo chão, de camisas abertas, chapéus de "marroquinos" ou cow-boys, de cerveja ou garrafão empunhado ao ar, tremendamente embriagados e que conferem à Festa da Pinha aquele sinal que os seus defensores acérrimos de todo repudiam, de tal forma isso é assim que já ouvi de um responsável da nossa G.N.R. afirmar na nossa presença, que aquilo da Festa da Pinha é a "festa dos bêbados"... Lamentável!
Já agora, ninguém defende que as garrafas de cerveja sejam partidas no alcatrão assim que são consumidas, como não somos defensores do "roubo de flores" para ornamentar as viaturas, como alguns julgam ser "tradição".
Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha!
É este o grito que mais gosto de ouvire que gritarei até que as forças e a cabeça mo permitam fazer.
A tradição manda ir à Pinha e repartir no Ludo os petiscos e as bebidas que cada um tem orgulho em apresentar, junto aos caracóis às sardinhas assadas no braseiro, ao borrego cheiroso e apelativo ao folar de Estoi e aos rissóis da "Manelinha" patrona da Rádio Simão, emissora oficial da nossa tradicuonalFesta da Pinha.
Viva a Pinha - Viva a Pinha cacete!
(Joaquim Aleixo)

sábado, 21 de abril de 2007

PINHA



"Ah Pinha! És tão minha..."

É DIA FERIADO EM ESTOI
O DIA DE TODOS OS ESTOIENSES
O DIA DE TODAS AS ALEGRIAS
O DIA MAIS DESEJADO.
E VIVA A PINHA!
VIVA A PINHA!
A FESTA CONTAGIOU
TODA A FAMILIA ESTOIENSE
E FICOU
PARA SEMPRE
PARA SEMPRE
ETERNAMENTE
MUITOS QUE MUITO FIZERAM
PARA A VITORIA DA EXISTÊNCIA
DA PERSISTÊNCIA
DA CONTINUIDADE
A NOSSA SAUDADE!
É VERDADE!
A ESSES, A HOMENAGEM
SENTIDA E NATURAL
DE TODOS OS "ALMOCREVES "
DE HOJE, DE SEMPRE,
OS "ROMEIROS"
INTRÉPIDOS E AVENTUROSOS
QUE FAZEM A HISTORIA
DA PINHA
DA NOSSA MEMORIA COLECTIVA
IMEMORIAL!
SECULAR!
ETERNA!...
O FACTO HISTORICO
CULTURAL
QUE SE REVIVE
REVIGORA
REJUVENESCE
ANO APÓS ANO.
É CERTO QUE A PINHA ESTÁ MUDANDO,
MAS, AS SOCIEDADES EVOLUEM
CADA ANO
APROXIMANDO OU AFASTANDO
AS PESSOAS
QUE SÃO GENTE!
NESTE DIA
NA SUA TERRA
NA SUA ALDEIA
NA SUA FESTA
VIVA A PINHA!
VIVA A PINHA!
É O GRITO QUE MAIS SE OUVE
NESTE DIA
VOZES ROUCAS
CAVERNOSAS,
VOZES FINAS,
DE MENINAS!
DE GAROTADA HILARIANTE E GARBOSA
QUE SE REVÊ NA SUA FESTA
NA SUA PINHA!
IMITAÇÃO?
CÓPIA? DE QUÊ?
COM QUEM?!
SOMOS ORIGINAIS
NATURAIS
IMORTAIS
SOMOS "ROMEIROS"
SOMOS "ALMOCREVES "
SOMOS DE ESTOI
VIVA A PINHAAA!
VIVA A PINHA CACETE!
A ALDEIA FICA MAIS BELA
O CASARIO BRANCO SUJO
COMO QUE RI NESTE DIA!
AS ANDORINHAS TRINAM
MAIS ESTRIDENTES!
É O HINO À PRIMAVERA
DE ESTOI!
TUDO ACORDA PARA A PINHA!
TUDO LEVAM NESTA FESTA!
PARA REPARTIR
PARA DIVERTIR...
PARA VIVER E SORRIR.
TRAJES PASSADOS
CHAPÉUS MONTANHEIROS
ROUPAGENS DIVERSAS
COLORIDAS
DESBOTADAS
AO GOSTO DO GOSTO
SEM REGRAS PRECISAS
SEM NORMAS
SEM RIGOR
MAS SEMPRE
COM FERVOR, COM AMOR!
É A PINHA MAJESTOSA
IMPONENTE
COM SUAS CARROÇAS
RESISTENTES
TENTANDO
TEIMANDO, ANO APÓS ANO
SOBREVIVER
AO TRACTOR
QUAL ANDOR!
CADA QUAL SUA FLOR!
CAVALOS SÃO ÁS DEZENAS
ALTIVOS!
SUBLIMES!
COM SEUS APETRECHOS
E ARREIOS COM ENFEITES
NUM TROPEL RITMADO
RELICHAM FELIZES
É TAMBÉM O SEU DIA!...
CORTEJO DE SONHO
DE FLASHES SEM FIM
AO LONGO DA ESTRADA
A LUDO VÃO TER
AÍ, TUDO É BELO!
CONVIVIO FRATERNO
QUE NÃO SABE A IDADE
BEBEM-SE VINHOS
MADUROS E VERDES
CASEIROS OU NÃO
CANTA-SE UM FADO
OU MESMO CANÇÃO
ABRAÇOS EXPONTANEOS
ENTRE NOVOS E VELHOS
MENINAS E TUDO
VÃO BEIJAR A POEIRA
HA BAILES, ABRAÇOS,
HA FUMO!
HA ASNEIRA...
FIGURAS SIMPLORIAS
COM GENTE MAIS FINA
E LETRADA
ALI, LADO A LADO
CONVIVEM SORRINDO
MAIS TARDE, NA ESTRADA
ALGUNS MAIS AFLITOS
LÁ FICAM DORMINDO
CURTINDO COM A BRISA
QUE FUSTIGA NA TARDE
ESPERANDO TALVEZ
QUE EM ESTOI
DE NOVO ACORDADOS
MAIS FORTES PARA O GRITO
UNISSONO E GERAL
VIVA A PINHA!
VIVA A FESTA DA PINHA!
CENTENAS, MILHARES...
APOIAM A SUBIDA
EM SANTA BARBARA PRIMEIRO
PARA ATESTAR COM MAIS UMA
DEPOIS O ARCHOTE
A ACENDER O BRASEIRO
DA GLORIA SUPREMA
DA ENTRADA EM ESTOI
AO CAIR DA NOITE
OS "OSCARES "AÍ VÃO
PREMIAR A VITORIA COLECTIVA
"EX-AEQUO "
DA CONTINUIDADE
DA NOSSA EMOÇÃO
FEITA TRADIÇÃO
VIVA A PINHA!
VIVA A FESTA DA PINHA!
E TODOS RESPONDEM
COM OLHOS DE ESPANTO!
O ENORME E SERPENTEANTE CORTEJO
É TODO UM ENCANTO!...
PUM, CATRAPUM, PUM, PUM...
TA, RA-TRA-TA-TA TCHIM...
FOGUETES E MUSICA
MUSICA E FOGUETES
ECOAM NO AR...
EM ESTOI É O CLIMAX
É A PINHA
É A FESTA QUE VEIO
MAS QUE VEIO, PRA FICAR
PARA SEMPRE...
SEMPRE
SEMPRE
ETERNAMENTE !
(Escrito por Joaquim Aleixo-jogos florais 1993)