sexta-feira, 25 de maio de 2007

AS ABARCAS


"Quem abusar deverá ser afastado de imediato"

É usual alguns "valentões" e jovens mais "musculosos" tentarem deitar abaixo o parceiro mais afoito! Por norma, após o repasto, faz-se uma roda e ... vamos a ver quem é que se aguenta de pé!
Há que agarrar o adversário como puder e tentar derrubá-lo.
Nada de desconfiar ou golpes baixos.
Quando cair acabou!... Quem abusar deverá de imediato ser afastado...

(Joaquim Aleixo)

sábado, 12 de maio de 2007

O REGRESSO

Chegou a hora de regressar! A festa em Ludo terminou!
Num ápice todo o "circo" foi levantado, carros, mulas, carroças, tractores, cavalos, cavaleiros, a rádio Simão, tudo está pronto para a partida.
Aí vamos nós estrada fora, com alguma anarquia á mistura.
Entrámos na Estrada 125 que temos de percorrer apenas 200 ou 300 metros e aumenta a anarquia.
A Guarda Nacional Republicana controla o transito.
Mas, o ruido dos automóveis, das motos e motorizadas assusta os animais! É preciso corajem e força para os conter e segurar evitando algum indesejado acidente.
A Rádio Simão, apela aos estranhos, para não se intrometerem entre o cortejo. Ninguém respeita.
E lá vamos andando o melhor possível.
O cenário á nossa frente é fascinante! São dezenas de cavaleiros, numa simbiose, numa amálgama perfeita.
Todos solidários entre si.
Não obstante, alguns mais irreverentes, fazem uma ou outra pirueta empinando as suas montadas, assustando quem está a assistir e gritam: Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha!
Todo o percurso de regresso é empolgante! Muita gente na estrada saudando a caravana.
Passámos o Esteval, vamos em direcção a Santa Barbara de Nexe, onde uma multidão nos espera.
Aí chegados, somos recebidos ao som da Banda de Musica.
À entrada de Santa Barbára a caravana pára, esperando que todos estejam reagrupados, para podermos subir até ao Rossio.
Cumpriu-se a tradição. Regressamos à estrada! Estamos de novo a caminho de Estoi.
Chegámos ao Coirro da Burra, mais um banho de multidão e mais uma paragem, esta é a última antes do final.
Temos de nos preparar para apoteose final! A entrada em Estoi!
Toda a caravana recebe os archotes feitos de esparto entrelaçado que hão-de empunhar até á Igreja do Pé da Cruz.
Os archotes que iluminam esta parte do percurso, simbolizam o passado.
Finalmente estalam os foguetes. É o sinal de partida. Todo o cortejo se põe em movimento. Alguns metros á sua frente a Banda de Música, tocando uma marcha,vai marcando o compasso!
A sua tarefa é dificil, para não dizer arriscada. Terão de fazer a pé, todo o percurso final, sempre a subir, com cerca de 2000 metros, tocando e transportando os instrumentos.
Para além disso têm atrás de si, a apenas alguns metros de distancia os já pouco disciplinados e exebicionistas cavalos e cavaleiros.
Na subida do Coirro da Burra, todos os ocupantes dos "carros de mula" se apeiam para que os animais já muito exaustos, consigam levar os carros até ao final da ladeira.
Os archotes rodopiando sobre as cabeças, enchem a noite escura, de luzes trémolas e brilhantes!
Os foguetes continuam a estalar e o cortejo ladeado por uma enorme multidão, entra em Estoi!
Passa em frente à Igreja de S. Martinho, no Largo da Liberdade, uma enorme multidão agita-se.
De um lado e de outro grita-se: Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha! Vamos subindo, rua acima e chegamos ao Largo Ossonoba! Finalmente entra-se na Rua do Pé da Cruz. Lá ao fundo, avista-se o cruzeiro de pedra onde iremos depositar o alecrim.
A Banda toca o último número e é a despedida final! Cansados, roucos, emocionados e felizes, os intrépidos "romeiros", podem enfim descansar!
Para encerramento desta jornada, conta-se que antigamente ao longo da Rua do Pé da Cruz e junto ao cruzeiro, eram colocadas mesas com comida e bebida para todos.
Actualmente é no Largo Ossonoba que está á entrada da rua que recebe todos quantos aqui quiserem conviver, comendo e bebendo ao som de musica popular.
"Ás gerações mais antigas da minha aldeia, às gerações que fizeram "algo" para manter vivo o espirito da Pinha, aos jovens do futuro, o nosso agradecimento, por aquilo que fizeram, façam ou venham a fazer, em defesa duma tradição que nos toca a todos.
Que o dia 2 de Maio de cada ano seja sempre a data de maior exaltação da aldeia de Estoi, que mais anima, mais une, mais toca os nossos sentimentos de fraternidade, igualdade e identidade.
Que os dias mais felizes da Festa da Pinha, sejam aqueles que ainda não vivemos!"
Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha!

(Joaquim Aleixo - Maio de 1994)

sexta-feira, 11 de maio de 2007

A PARTIDA

“De Estoi a Ludo"
Integramos o cortejo, montados na carroça que este ano é conduzida a preceito pelo nosso amigo Filipe “carreiro” entendido.
Teimosamente Eu, o Eusébio Rita (sete pelos), o José António Paula Brito (o Doutor) e o José António Cadete Gago que veio a propósito do longínquo Canadá, para não perder pitada da Pinha, fazemos questão de nos manter fiéis à carroça, em detrimento do tractor.
Um mar de gente no Largo da Liberdade, aplaude e incentiva os intrépidos “almocreves” que partem garbosos em direcção a Ludo.
O barulho dos chocalhos e arreios das carroças, o relinchar estridente das éguas e cavalos, o grito ainda sonoro do “Viva a Pinha” prontamente repetido por todos.
Eh pá, já contei mais de 118 cavalos! diz animado, o Rita.
Flashes disparam em todas as posições, são as máquinas apontadas que captam as primeiras imagens matutinas para mais tarde recordar.
Os miúdos da Escola Primária, saltitam e pulam de contentamento com a passagem ritmada do cortejo!
É a Festa da Pinha, em Estoi!
Viva a Pinha! gritam e o Rita responde: “viva o alguidar da carne! …”
O cortejo vai avançando eufórico, estrada fora. Ultrapassamos, somos ultrapassados, sempre com o grito “Viva a Pinha”!
O Coirro da Burra, há muito que ficou para trás, passámos Santa Bárbara e estamos a chegar ao Esteval.
O percurso vai sendo feito com grande animação e entusiasmo, muita gente na beira da estrada, alguns turistas aproveitam para tirar fotos.
E foi assim até Ludo. Chegámos!
Cada grupo procura a melhor sombra para ficar.
A chegada, com alguma decepção verificamos que muitos que não participaram no cortejo, se antecipam e já ocupam os melhores lugares.
Desatrelam-se os animais.
Preparam-se as mesas improvisadas, porque é tempo de retemperar as forças, comer e beber o farnel que preparámos.
A Festa continua.
Misturam-se sabores, prova-se isto e aquilo, ... eh pá trás as febras que os caracóis já foram!
Que bela pinga esta! Este ano está boa!
Contam-se histórias.
Repete-se o ritual.
Cantamos, dançamos e brincamos, ao som do harmónio.
Fazem-se abarcas!
O Zé Preto, ao ver uma linda moça diz uma bonita quadra:

As tuas mãos cor-de-rosa
As tuas faces vermelhas
As tuas palavras mimosas
Fazem-me aquecer as orelhas!

O dia vai avançando, daqui a pouco é hora de preparar o regresso.
Ainda há tempo de beber mais um copo e ouvir um verso, agora do nosso amigo Arnaldo “Panito Mole”:

Como é para ficar gravado
Vou dizer uns versos tais
Já estou velho e cansado
Não sei se virei cá mais!

Para continuar a gravar
Quero dizer uma minha
Certa malta que está a falar
Nem sabe o que é a Pinha!

Isto é um festejo tão querido
E quero que ninguém se esqueça
Trouxe um copo partido
Que tenho que beber à pressa!

Este vinho do Cavaco
Não vem lá do Cartaxo
Mesmo sendo um pouco fraco
Até deita a gente abaixo!

São horas! Temos de nos despachar! Vai mais uma para atestar!
Em breve iniciaremos a partida de regresso a Estoi.

(Joaquim Aleixo - Maio de 1994)

quinta-feira, 10 de maio de 2007

MANHÃ DO DIA 2 DE MAIO

"Preparando a saída"

Uma vez mais o dia amanheceu lindo, daquele azul Algarve indescretivel e sem pararalelo em outra parte do planeta.
No ar um cheirinho a pampilho verde do campo, exalando as muitas rosas multicores o cheiro etéreo que só Estoi no dia 2 de Maio possui.
Palmeiras vergadas e em esquadria, ornam o carro de mula, este ano temos outro animal, já que a resistente e inultrapassável mulinha que o Sr. Manelinho Corvo, todos os anos nos cedia com orgulho, sucubiu ao peso dos anos.
Deixo aqui a homenagem áquela valente mula que partindo tarde, ás vezes já o cortejo passava o Coirro da Burra, rápidamente cavalgava célere até á cabeça da coluna. Belo animal!
Os foguetes estalam ruidosamente no ar chamando a comitiva para a partida!
São horas minha gente!
É preciso dar um último retoque no arranjo!
Mais um aperto na cinta preta, um retoque no lenço ao pescoço e uma fina malva ainda tesa colocada com desvelo e carinho, no chapéu que ostentamos à montanheiro!
Vamos malta!
Toca a subir para o carro!
Não esqueçam as cervejas! ... e o alguidar da carne?!
Um último olhar para verificar se não falta nada.
Estamos todos?!
Está tudo pronto para a partida!
É isto ano após ano neste grupo que tema em continuar a tradicção, levando toda uma mensagem de continuidade presente, em memória dos "almocreves" mais antigos.
É o começo do pulsar da Pinha deste ano de 1994!
Joaquim Aleixo
(escrito em 2 de Maio de 1994)

sábado, 5 de maio de 2007

CONVERSAS SOBRE A PINHA

"Conversando com o meu parente Albino"

A Festa da Pinha, autentica “ex-libris” da nossa aldeia, uma ancestral e centenária festa dos “almocreves” e “romeiros” que ano após ano se realiza em Estoi no dia 2 de Maio de cada ano, merece ser conhecida em pormenor.
Ao certo desconhece-se a sua origem. No entanto pretendia ouvir os mais idosos que participam nesta festa e perguntar-lhes o que sabem sobre ela.
Sendo assim, a 1 de Maio de 1994, dispus-me de gravador na mão, a falar com o nosso amigo Albino que com a bonita idade de 72 anos, me foi dizendo que já ouvia falar da festa da pinha, ao seu avô que lhe dizia que era muito antiga. Não sabe o motivo porque vão a Ludo, mas consta que há muitos anos atrás, no tempo em que existiam em Estoi os tais “almocreves” (que como se sabe eram pessoas que conduziam “bestas de carga” transportando mercadoria de uma terra para outra), havia em Ludo um senhor, filho ou descendente de um dos Condes de Carvalhais que era muito boa pessoa e emprestava dinheiro aos “almocreves” para eles poderem adquirir as mercadorias que levavam para o Alentejo ou mesmo para as Beiras, lá trocavam por outras mercadorias que traziam de regresso ao Algarve.
Naquele tempo este tipo de viagens eram para além de perigosas muito demoradas pelo que uma vez por ano acertavam contas com o tal senhor em Ludo.
Assim, no dia 2 de Maio seria o dia do pagamento.
Eram recebidos sempre com grande festa, onde comiam, bebiam e dançavam, junto à residência do senhor, nos pinheiros de Ludo (talvez daí o nome de pinha?).
Regressavam nessa noite a Estoi, empunhando archotes, indo em romaria, felizes agradecer à Nossa Senhora do Pé da Cruz, onde junto ao cruzeiro queimavam alecrim.
No dia seguinte que é o dia de Vera Cruz, faziam a procissão em honra de Nossa Senhora, percorrendo as ruas da aldeia, vestidos com os seus trajes característicos de almocreves ou seja: calça e colete pretos, camisa branca, cinta preta e barrete preto.
Quanto às mulheres vestiam saia preta e blusa branca, embora naquele tempo, talvez devido à perigosidade dos caminhos, não iam a Ludo e apenas participavam na festa, em Estoi.
Por me parecer importante aqui fica este testemunho de um homem que para além de participar nesta festa durante muitos anos, também integrou várias comissões organizadoras.
Joaquim Aleixo
(Escrito em, 1 de Maio de 1994)

quinta-feira, 3 de maio de 2007

FESTA DA PINHA-2007

"Bonita, alegre, emocionante e popular"
A Festa da Pinha 2007, foi igual a si própria.
Isto é, a saida do cortejo para Ludo com algum atraso, este ano com a ameaça de chuva, o que também não foi novidade, a festa em Ludo, e o regresso a Estoi, também como sempre com algum atraso, para desespero dos que aguardavam o cortejo e olhavam ansiosamente para a estrada do Coirro da Burra, para ver surgir ao fundo as tochas e finalmente ter o prazer de sauda-los com um forte "Viva a Pinha!".
Também como sempre, na frente o carro sonoro, seguido da Banda de Musica, depois os Cavaleiros, um pouco indisciplinados, os Carros de Besta, os Tractores e as Carrinhas.
Enfim o repetir da "Tradição" que para aqueles milhares de pessoas que aguardavam na aldeia o cortejo, foi o renovar da emoção.
Tirando alguns exageros que naturalmente não são possiveis de controlar, a festa esteve bonita, alegre, emocionante e sobretudo popular.
Parabens a todos os participantes e em especial aos Estoienses que têm sabido manter esta tradição.
JJ Rodrigues