sábado, 5 de maio de 2007

CONVERSAS SOBRE A PINHA

"Conversando com o meu parente Albino"

A Festa da Pinha, autentica “ex-libris” da nossa aldeia, uma ancestral e centenária festa dos “almocreves” e “romeiros” que ano após ano se realiza em Estoi no dia 2 de Maio de cada ano, merece ser conhecida em pormenor.
Ao certo desconhece-se a sua origem. No entanto pretendia ouvir os mais idosos que participam nesta festa e perguntar-lhes o que sabem sobre ela.
Sendo assim, a 1 de Maio de 1994, dispus-me de gravador na mão, a falar com o nosso amigo Albino que com a bonita idade de 72 anos, me foi dizendo que já ouvia falar da festa da pinha, ao seu avô que lhe dizia que era muito antiga. Não sabe o motivo porque vão a Ludo, mas consta que há muitos anos atrás, no tempo em que existiam em Estoi os tais “almocreves” (que como se sabe eram pessoas que conduziam “bestas de carga” transportando mercadoria de uma terra para outra), havia em Ludo um senhor, filho ou descendente de um dos Condes de Carvalhais que era muito boa pessoa e emprestava dinheiro aos “almocreves” para eles poderem adquirir as mercadorias que levavam para o Alentejo ou mesmo para as Beiras, lá trocavam por outras mercadorias que traziam de regresso ao Algarve.
Naquele tempo este tipo de viagens eram para além de perigosas muito demoradas pelo que uma vez por ano acertavam contas com o tal senhor em Ludo.
Assim, no dia 2 de Maio seria o dia do pagamento.
Eram recebidos sempre com grande festa, onde comiam, bebiam e dançavam, junto à residência do senhor, nos pinheiros de Ludo (talvez daí o nome de pinha?).
Regressavam nessa noite a Estoi, empunhando archotes, indo em romaria, felizes agradecer à Nossa Senhora do Pé da Cruz, onde junto ao cruzeiro queimavam alecrim.
No dia seguinte que é o dia de Vera Cruz, faziam a procissão em honra de Nossa Senhora, percorrendo as ruas da aldeia, vestidos com os seus trajes característicos de almocreves ou seja: calça e colete pretos, camisa branca, cinta preta e barrete preto.
Quanto às mulheres vestiam saia preta e blusa branca, embora naquele tempo, talvez devido à perigosidade dos caminhos, não iam a Ludo e apenas participavam na festa, em Estoi.
Por me parecer importante aqui fica este testemunho de um homem que para além de participar nesta festa durante muitos anos, também integrou várias comissões organizadoras.
Joaquim Aleixo
(Escrito em, 1 de Maio de 1994)

1 comentário:

Antonieta Guerreiro disse...

Parabéns pela iniciativa e pelo trabalho de recolha de dados.

Agradeço-lhe por isso, pois é muito útil.

Vou divulgar pois é importante que se saiba a origens das tradições algarvias.