sábado, 12 de maio de 2007

O REGRESSO

Chegou a hora de regressar! A festa em Ludo terminou!
Num ápice todo o "circo" foi levantado, carros, mulas, carroças, tractores, cavalos, cavaleiros, a rádio Simão, tudo está pronto para a partida.
Aí vamos nós estrada fora, com alguma anarquia á mistura.
Entrámos na Estrada 125 que temos de percorrer apenas 200 ou 300 metros e aumenta a anarquia.
A Guarda Nacional Republicana controla o transito.
Mas, o ruido dos automóveis, das motos e motorizadas assusta os animais! É preciso corajem e força para os conter e segurar evitando algum indesejado acidente.
A Rádio Simão, apela aos estranhos, para não se intrometerem entre o cortejo. Ninguém respeita.
E lá vamos andando o melhor possível.
O cenário á nossa frente é fascinante! São dezenas de cavaleiros, numa simbiose, numa amálgama perfeita.
Todos solidários entre si.
Não obstante, alguns mais irreverentes, fazem uma ou outra pirueta empinando as suas montadas, assustando quem está a assistir e gritam: Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha!
Todo o percurso de regresso é empolgante! Muita gente na estrada saudando a caravana.
Passámos o Esteval, vamos em direcção a Santa Barbara de Nexe, onde uma multidão nos espera.
Aí chegados, somos recebidos ao som da Banda de Musica.
À entrada de Santa Barbára a caravana pára, esperando que todos estejam reagrupados, para podermos subir até ao Rossio.
Cumpriu-se a tradição. Regressamos à estrada! Estamos de novo a caminho de Estoi.
Chegámos ao Coirro da Burra, mais um banho de multidão e mais uma paragem, esta é a última antes do final.
Temos de nos preparar para apoteose final! A entrada em Estoi!
Toda a caravana recebe os archotes feitos de esparto entrelaçado que hão-de empunhar até á Igreja do Pé da Cruz.
Os archotes que iluminam esta parte do percurso, simbolizam o passado.
Finalmente estalam os foguetes. É o sinal de partida. Todo o cortejo se põe em movimento. Alguns metros á sua frente a Banda de Música, tocando uma marcha,vai marcando o compasso!
A sua tarefa é dificil, para não dizer arriscada. Terão de fazer a pé, todo o percurso final, sempre a subir, com cerca de 2000 metros, tocando e transportando os instrumentos.
Para além disso têm atrás de si, a apenas alguns metros de distancia os já pouco disciplinados e exebicionistas cavalos e cavaleiros.
Na subida do Coirro da Burra, todos os ocupantes dos "carros de mula" se apeiam para que os animais já muito exaustos, consigam levar os carros até ao final da ladeira.
Os archotes rodopiando sobre as cabeças, enchem a noite escura, de luzes trémolas e brilhantes!
Os foguetes continuam a estalar e o cortejo ladeado por uma enorme multidão, entra em Estoi!
Passa em frente à Igreja de S. Martinho, no Largo da Liberdade, uma enorme multidão agita-se.
De um lado e de outro grita-se: Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha! Vamos subindo, rua acima e chegamos ao Largo Ossonoba! Finalmente entra-se na Rua do Pé da Cruz. Lá ao fundo, avista-se o cruzeiro de pedra onde iremos depositar o alecrim.
A Banda toca o último número e é a despedida final! Cansados, roucos, emocionados e felizes, os intrépidos "romeiros", podem enfim descansar!
Para encerramento desta jornada, conta-se que antigamente ao longo da Rua do Pé da Cruz e junto ao cruzeiro, eram colocadas mesas com comida e bebida para todos.
Actualmente é no Largo Ossonoba que está á entrada da rua que recebe todos quantos aqui quiserem conviver, comendo e bebendo ao som de musica popular.
"Ás gerações mais antigas da minha aldeia, às gerações que fizeram "algo" para manter vivo o espirito da Pinha, aos jovens do futuro, o nosso agradecimento, por aquilo que fizeram, façam ou venham a fazer, em defesa duma tradição que nos toca a todos.
Que o dia 2 de Maio de cada ano seja sempre a data de maior exaltação da aldeia de Estoi, que mais anima, mais une, mais toca os nossos sentimentos de fraternidade, igualdade e identidade.
Que os dias mais felizes da Festa da Pinha, sejam aqueles que ainda não vivemos!"
Viva a Pinha! Viva a Festa da Pinha!

(Joaquim Aleixo - Maio de 1994)

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